quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Como as coisas mudam...


Como as coisas mudam

Está chegando fim do ano e me lembrei de quando montei esse Blog, que no começo era apenas uma homenagem ao meu pai. Com o tempo foi tomando formas e assuntos que eu amava, que na verdade serviam mais como um diário de coisas que gostaria de registrar e fazer.

Se o fim do mundo vai chegar dia 21, digo que ficarei triste. Apesar de um ano difícil, porém cheio de lições e aprendizados importantes, que com certeza vão me ajudar a viver mais intensamente ainda!

Se tinha medo de mudanças, posso dizer que devo ter superado boa parte dele esse ano. Considerar a felicidade fruto do que fazemos pelos os outros a quem amamos, talvez seja um erro, principalmente quando não somos reconhecidos, mas é algo que vem do coração, que mostra algo na essência de pessoas que vivem com paixão, não apenas pelo o que fazem, mas paixão por pessoas, amigos, filhos, coisas, hobbies, trabalho, enfim…. Infelizmente nem todos estão preparados para isso.

Sair do mar e voltar para terra foi praticamente uma missão que no começo julguei impossível. Daí descobri que quando vivemos para nós e não para os outros, tudo fica mais simples e verdadeiro. Exigir de nós e não dos outros pode muitas vezes ser um desafio, mas é o certo. Dar e saber receber, mais ainda. Aceitar e ser aceito. Lembrei que as coisas que fiz, foi lutar por mim enquanto vivi para outros. Fiquei triste de ter falhado, fiquei com raiva de mim e me senti a pior pessoa do mundo, alguém que não merecia mais nenhuma chance. Me crucifiquei e me machuquei até chegar no fundo de tudo e ver numa pequena luz e num pequeno momento que tem coisas na vida que simplesmente se vão, sem perguntar e sem avisar. E graças a nossa natureza, podemos nos reinventar, encontrar pessoas melhores e sermos melhores. Tirar o melhor de nós e dos outros. Podemos enfim de verdade dizer chega e viver o novo, sem medo e voltar a acreditar….na vida!

Aquela troca perfeita do mar e do ambiente continua, o sol se põe a cada dia a oeste e nasce no leste…e assim o mar estará lá todos os dias, dando o melhor que pode dar e todos que nele estão, terão que aprender a viver com o que ele tem naquele momento. Talvez essa sinceridade seja o mais apaixonante das ondas e do sal, que nos castigam de alguma forma, feitos para viver em terra. Mas o que é a vida senão essa troca?

Descobrir que aqui (em terra) vivemos com plenitude também, foi uma das mais belas surpresas que  eu poderia me presentear. Encontrar pessoas que valem a pena e reaprender a receber coisas boas e simples! O amor que temos dentro de nós, nos pertence e cabe a nós distribui-lo e assim multiplicá-lo. Reencontrar lugares, pessoas e fazer coisas que fazia antes de passer 5 anos no mar, foi simplesmente maravilhoso…porque bem ou mal, aqui, sempre fui eu mesma! Sempre fui feliz e sou muito feliz!

Uma das coisas que mais temia aconteceu, mas e daí? Descobri que minha vida e meus amores são muito maiores que tudo isso. Mudanças podem ser fáceis ou difíceis, depende apenas de nós, por mais cliché que possa parecer, é a grande verdade. No fim do dia, depende apenas do que realmente somos, das decisões que tomamos e mais importante, arcar com todas as consequencias de cara limpa, sejam boas ou ruins. Recontruir, reformular, melhorar mas nunca ter medo de amar e de seguir em frente. A vida é realmente cheia de surpresas e digo que não vale a pena entrar num rio e segurar na pedra. Digo e repito que deixar a correnteza fluir e nos levar é muito mais gratificante e belo!

Espero de verdade, conseguir reaprender muitas coisas. Hoje sei que deixei um passado onde ele deveria ficar…atrás de mim e da minha nova vida. Barcos e o mar sempre farão parte de mim como sempre foi! A única diferença é que hoje posso ver tudo isso com mais leveza e ter de volta minha paixão de verdade. Ter de volta com carinho a vontade de velejar e de ver um por do sol da areia da praia. Posso de verdade ter uma companhia que tenha suas próprias paixões e possa enriquecer as minhas! Coisa que antes era apenas um trabalho, um momento ou até uma fuga ou vontade de reencontrar quem não estava mais em terra, mas ironicamente reencontrei aqui, aquela pessoa que sempre fez parte de mim, pois aqui que consegui redescobrir o que sou de verdade….

Emocionada, posso dizer: Obrigada a todos que estiveram do meu lado nesse ano complicado. Obrigada por muitas vezes acreditarem mais em mim do que eu mesma. Me desculpem as brigas sem razão, os sumiços e as insistentes lágrimas de auto punição. Obrigada pela paciênca e por me aceitarem. Obrigada principalmente aqueles que não tinham obrigação alguma, mas ficaram do meu lado e me ajudaram de todas as formas, provando seu carinho incondicional, me mostrando que a vida ainda valia a pena ser vivida com todo o amor que tenho dentro de mim.….pessoas que fizeram questão, sofreram comigo e podiam muito bem simplesmente ter ido embora....obrigada por terem ficado! Espero um dia conseguir retribuir o quanto tudo isso valeu para mim! 

Bem vindos a a bordo da minha nova vida….que é meu verdadeiro veleirinho!!! 

Boas Festas! 

Peace & Luv! =) 

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Amores e Veleiros



Escreve-se muito sobre viagens e belos planos com veleiros. Podemos achar muitas lindas histórias, memórias e poesias sobre como barcos são apaixonantes. Somente raras pessoas que já tiveram a oportunidade de construir uma vida a bordo, sabem exatamente do que se tratam tais sentimentos. Ninguém que apenas vive de final de semana num veleiro ou acha que vida a bordo acontece num barco terminado, pronto para velejar, num pier com água, luz e uma marinheiro para fazer o trabalho pesado poderá entender tamanha paixão. Também não entenderiam aqueles que acham que já tem um companheiro a bordo, mas infelizmente apenas uma das pessoas consegue realmente sentir a magia e acreditam numa reciprocidade que muitas vezes não passa de ilusão e brincadeira.



Hoje ouvi algo interessante: ‘’Ser feliz é algo que dá trabalho. A felicidade é um sentimento para pessoas fortes, intensas e valentes. Não existe espaço na felicidade para pessoas preguiçosas e fracas.’’ Neste momento pensei que assim funciona um veleiro, pois um barco navega quando sua tripulação é forte e ativa. Ele navega quando seu comandante deixa claro quem manda e quem está no controle. As coisas funcionam quando tudo é feito na hora certa e de forma perfeita. Não existe espaço para acúmulo de falhas.


Após compreendida essa verdade consiguimos enxergar o porquê muitos idealizam uma linda vida a bordo. Como sempre, as pessoas tendem a se lembrar apenas das partes boas e românticas: o pôr do sol, a brisa fresca, o isolamento da cidade, o belo horizonte colorido e muitas luzes para enfeitar. Esquecem que num veleiro, o momento mais fácil de tirar fotografias bonitas é quando o mar está calmo e o sol está intenso.

Difícil mesmo é manter esse romantismo na hora de trocar o óleo do motor, escalar o mastro, lavar os tanques, o porão, pintar o fundo, lavar o convés, trocar as velas ou enfrentar uma tempestade. Ter uma companhia a bordo vai muito além de companheirismo e confiança. É necessário completar o parceiro e ter um auto-conhecimento além do comum. É necessário saber seus próprios limites e mais difícil ainda, identificar os limites do outro. É um verdadeiro jogo de encaixe onde existem peças de todas as formas e tamanhos e cabe aos envolvidos, juntos, encaixarem o quebra-cabeças, no momento certo e não apenas nas horas mais fáceis e com o mar calmo, mas sim, quando o mar está revolto, a noite está escura escondendo grandes ondas e o frio da madrugada assola o convés e o corpo cansado.

Viver a bordo é acordar de madrugada no seu turno e ter alguém que faça um pouco de companhia até você conseguir acordar e te ajudar a não dormir em momentos importantes. Ter alguém que faça um chocolate quente apenas por fazer. Viver a bordo é deixar sua vida nas mãos do seu companheiro de vela no momento de uma manobra perigosa, confiando-lhe o leme e o movimento das velas. É ter alguém que tire uma ou duas fotos nos momentos difíceis e muitas fotos nos momentos lindos, mas no final, o que ficará mesmo são as histórias e aventuras.

Quando acostumamos a ter tal confiança e colocarmos tantas expectativas nas mãos de alguém, extendemos isso para a vida pessoal em terra e em todos os momentos em que tal pessoa está disponível. Passamos a confiar na pessoa sempre que precisamos dela, seja para dirigir o carro ou simplesmente trocar uma lâmpada.

Porém, a vida a bordo em excesso pode tornar tudo mais pesado. Com tantas dificuldades, o encanto acaba, as pessoas que não tiverem uma personalidade guerreira e decidida tendem a fugir da intensidade desta vida bem vivida e sentida como nenhuma outra e facilmente desistem. O espírito de equipe antes admirado e respeitado se torna apenas mais uma relacionamento, seja de amor ou amizade, fadado ao fracasso como todos exposotos a fatalidade da rotina.



Veleiros podem ser tornar um brinquedo da vida se não tomarmos cuidado. Algo que ao invés de contruir e unir, irá separar e deixar apenas uma vencedor: a solidão. A solidão de quem fica em terra e a de quem fica sozinho a bordo, ambos com lembranças memoráveis e saudosas de algo que poderia ser o mais belo dos relacionamentos. Veleiros foram feitos para pessoas fortes e sem temor de viver. Pessoas com medo do vento forte, porém corajosas e dicididas a enfrentar seus próprios demônios que aparecem livres e fortes quando temos apenas nós mesmos para conversarmos entre um turno e outro.

O lado bonito que todos sempre lembram é que veleiros também foram feitos para dividir momentos, construir relacionamentos improváveis e raríssimos nos dias de hoje, onde qualquer diferença ou adversidade, é motivo para mudar e trocar de pessoa como fazemos com as coisas materiais atualmente. Sim, o mais belo todos nós pesamos, mas esse peso, com os prós e contras, só verdadeiros velejadores e seres humanos conseguem sentir, pesar suas medidas na balança do coração e no final ainda assim, com todos os riscos, medos e perigos, escolher um amor e um veleiro.



segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Diário de uma velejadora em terra (parte 3) - 23.jan

Depois do fato do tripulante não ter ido, acabei encontrando o Felipe em Ilhabela e de lá fizemos o trecho até Floripa, onde pegamos uma frente fria.
A frente fria ficou até o dia 17 de janeiro, quando eles zarparam e pegaram a partir daí uma janela de vento nordeste muito bom, que dura até quarta...dia 15.jan.
Desde então vim para SP e retomei as atividades por aqui. Tive duas reuniões importantes que referem-se ao trabalho corporativo que realizamos, encontrei alguns amigos e continuei ansiosa por saber por onde o Mistralis andava. Ainda bem que existe SPOT. O Felipe velejou bem, a última vez que vi as coordenadas já estavam bem próximo de Punta del Este, que fica já no Rio da Prata e de lá, muito mais fácil entrar até Buenos Aires.
Hoje as 14:30 embarco para lá e pretendo conhecer algumas coisas, entre elas, pedalar e ver se consigo conhecer algum tatame de Jiu Jitsu. Encontrei uma academia Gracie Buenos Aires. Vamos ver se eles me recebem...nem sei se meu kimono está limpo...rsrs

Agora me resta ir descansar...e ir do jeito fácil, de avião até Buenos Aires...de lá escrevo novamente para todos vocês...que acho que sou só eu! rs!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Diário de uma velejadora em terra (parte 2) - 9.jan

O primeiro dia em terra mesmo foi hoje. Pois eles sairam ontem a noite. Chegaram hoje cedo em Ilha Grande. Alguns enjoaram e o Mario, um querido cliente antigo, mas já um pouco mais velho preferiu desembarcar em Ilha Grande e o seu filho foi junto. Por isso menos duas pessoas a bordo.
O Filipe (tripulante, notem que são dois: O Felipe Capitão e o Filipe Tripulante) parece ser persistente, ouvi dizer que ele enjoou bastante, mas mesmo assim quis continuar.
A maior decepção foi o pessoal ter parado em Ilha Grande para pegar o outro tripulante, Augusto, que de última hora decidiu não ir, algo que atrapalhou muito nossos planos, mas não impediu o Felipe de zarpar.
Nesse momento tenso passa na minha cabeça que eu deveria ter ido junto, mas fica complicado arcar com a irresponsabilidade de todos com toda essa pressa. Em resumo, o Felipe já zarpou com o Mistralis para chegar o mais próximo de Florianópolis possível, pois uma frente fria se aproxima. Serão mais de 6 dias sem contato! É estranho estar do outro lado!

O dia aqui em terra foi no mínimo esquisito. Fui ao banco, resolvi alguns detalhes com parceiros, coloquei em dia nossos e-mails marketing e ainda tenho muito trabalho de escritório pela frente.
Sempre quis saber, como é quando não estamos aqui no Rio...e simplesmente as pessoas continuam suas rotinas, sem nem pensar em quem está no mar. Nesse momento dezenas de milhares de pessoas estão embarcadas pelo mundo, em veleiros, pesqueiros, navios, plataformas, enfim, todo e qualquer tipo de embarcação.

Enquanto estamos na nossa cama quentinha, bravos velejadores, navegadores ou simplesmente pessoas do mar estão lá fora enfrentando frio, chuva, sol e muita água salgada.
Nesse momento tenso de desistência de quem se compromete com algo tão importante, só me resta lamentar a irresponsabilidade alheia e agradecer aos outros amigos velejadores que se comprometeram em embarcar no próximo porto!

Me lembro quando essas coisas acontecem, da força de vontade do Felipe, que sempre é muito determinado e vai além do limite para conquistar seus objetivos. Que Éolo esteja com o Mistralis e sua tripulação!

Que eu consiga ficar tranquila nos próximos dias!

domingo, 8 de janeiro de 2012

Diário de uma velejadora em terra (parte 1) - 8.jan

Depois de 4 anos velejando junto, hoje o Mistralis e o Felipe Caire partiram rumo a Buenos Aires. Eu não fui, estou em terra cuidando dos assuntos da empresa, fazendo um apoio e resolvendo assuntos que não podem ficar 15 dias sem nenhum tipo de contato.
Hoje, 8 de janeiro de 2012, foi muito estranho ver o Mistralis partir e sumir atrás da ponta da boca da barra no Rio de Janeiro.
Preparamos juntos todos os detalhes da viagem, do roteiro até as compras...o que na verdade é o mais difícil! Certamente a viagem em si e todos os obstáculos são perfeitamente superáveis com toda a experiência do Felipe e da tripulação que contará com mais um velejador experiente, teóricamente no meu lugar! Digo teóricamente, pois ele não conhece o Mistralis como eu! Cada barco é um barco e há sempre coisas novas a aprender, ainda mais em se tratando de um veleiro como Mistralis: aço, 20 toneladas e quilha longa!

Já sinto saudades...de tudo! Aguardo ansiosamente a minha ida até Buenos Aires de avião para encontrá-los! Direto do Rio de Janeiro..... Karen